Do Blog do Noblat
Enviado por Mariana Caminha - 11.04.2011 | 14h03m
CARTAS DE LONDRES
O rei dos dicionários
Sei que é uma vergonha. Moramos aqui há tanto tempo e nunca pusemos os pés em uma das mais cidades da Inglaterra. Refiro-me a Oxford, lugar que pretendemos conhecer mês que vem, acompanhados pelo avô do Fabrício, que chega dentro de alguns dias.
Curiosa, mergulhei em livros e sites dedicados à história da cidade, certamente uma das mais belas daqui. E pelo que andei lendo, Oxford vale mesmo uma visita, mais de uma, até – não só pela imponência de seus prédios e pela tradicional universidade que abriga, mas também por sua gente, seus costumes.
Entre uma pesquisa e outra, deparei com a história do velho e respeitável Oxford English Dictionary. Ainda hoje, é praticamente impossível passar por um cursinho de inglês sem pedir socorro ao mais tradicional dicionário da língua inglesa. Publicado pela primeira vez no ano de 1928 (já em doze volumes!), o OED conta atualmente com cerca de 600 mil palavras e é o mais extenso léxico oficial do mundo, de acordo com o Livro Guiness de Recordes.
Insatisfeitos com os dicionários disponíveis na metade do século 19, os idealizadores do OED, homens que pertenciam à elite intelectual de Londres, uniram-se para formar o chamado Comitê de Palavras Não-registradas, com a missão de listar e definir os vocábulos que não se viam em nenhum dicionário. Entre os maiores colaboradores de James Murray, um dos filólogos do grupo, estava um misterioso William Chester Minor, que, depois se veio a saber, era doente mental, e cumpria pena em um manicômio por homicídio. A história, que parece ficção, deu um livro fascinante, "O professor e o demente", publicado no Brasil pela Record, em 1999, daqueles que começamos a ler e não conseguimos largar antes da última página.
O certo é que o trabalho foi feito, e apresentado às universidades Cambridge e Oxford para publicação. O resto já se sabe. Verdadeiro patrimônio cultural da Inglaterra, o OED continua sendo notícia.
Aconteceu há poucos dias. Para desespero dos puristas da língua inglesa, a gíria cibernética “LOL” (laughing out loud, algo como “morrendo de rir”) acaba de ser incorporada ao Oxford English Dictionary, assim definida: “uma interjeição usada principalmente em meios eletrônicos e comunicação (…) para expressar alegria”.
Para os editores do OED, “LOL” é legitimamente parte do conjunto de palavras do inglês e, por isso, merece constar no maior dicionário da língua.
Os críticos não se conformam, e dizem que o OED presta, neste caso, um grande desserviço à lingua. É a simplificação do inglês, e um grande risco para as gerações mais antigas, que podem parecer ridículas ao tentar falar como um adolescente. Além da preocupação com o aprendizado das crianças. "A gíria não deve ser evitada?", perguntam-se os mais conservadores.
Sem tomar partido de ninguém, puristas ou linguistas, toda a polêmica em torno da ação dos editores do OED nos prova que nem mesmo a mais tradicional instituição do idioma inglês pode lutar contra a força e o dinamismo da língua, essa matéria-prima que nos dá tanto prazer em explorar.
Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres, de onde passa a escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se divertir.
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Comentário da 3GB:
O livro "O professor e o demente" é realmente genial! Recomendamos!
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