segunda-feira, 30 de maio de 2011

Só Vírgula


Dica preciosa para você aprender a escrever melhor: insistimos no assunto pontuação (e principalmente vírgula) porque é nesse tópico que notamos a maior quantidade de erros hoje em dia. E uma vírgula, você já viu aqui no blog, pode mudar todo o sentido da sua frase!


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pontuação

Veja o material que a 3GB Consulting preparou para você!

Faça os exercícios ao final, e se não tiver certeza das respostas, envie-nos um e-mail para duvidas@3gbconsulting.com.br. Enviaremos o gabarito para você!

Não erre mais! Saiba tudo sobre pontuação!


1. Vírgula

A vírgula é o sinal com maior variedade de uso; por isso, é aquele que oferece maiores oportunidades de erro. O principal é pensar que, a cada pausa da fala corresponde uma vírgula, o que é errado! Esquecer essa noção é o primeiro passo no sentido de utilizar a vírgula com segurança. A seguir, apresentamos as justificativas para emprego desse sinal.

a) separar os itens de uma série

Ex. Quero uma bebida gelada, uma carne ao ponto e um prato de sobremesa.

Os itens são separados todos com vírgulas, com exceção dos dois últimos, que são unidos por “E”.

Ex. O cachorro, o urso, o elefante E o pássaro não comem mais.

Atenção: há um outro padrão, no qual todos os itens são separados por vírgula. Essa construção visa demonstrar que os elementos citados não esgotam os objetos envolvidos na situação.

Ex. Era um sujeito alto, calmo, silencioso. (Ele não era só isso, tinha outras características, mas são essas as que se quis destacar).

b) separar orações ligadas por conjunções coordenativas

As orações coordenadas por E, MAS, NEM, OU ou POIS vêm separadas por vírgulas.

Ex. Não vou dar presentes no Natal, NEM espero receber coisa alguma.

Atenção: só se emprega a vírgula antes do E quando ele liga duas orações de sujeitos diferentes.

Ex. O pai saiu cedo de casa, e a mãe ficou até mais tarde.

Atenção: quando as orações forem curtas, pode-se omitir a vírgula; nunca, porém, antes do POIS.

Ex. Tentei falar mas não deixaram.

Ex. Ela está em casa, pois vi a luz acessa.

c) separar adjuntos adverbiais deslocados

Sempre que o adjunto adverbial vier for a de sua posição normal (que é no fim da frase), deve ser separado por vírgula.

Ex. Em dois anos de trabalho, jamais havia falado com meu colega.

Quando o adjunto for de pequena extensão, a vírgula pode ser omitida.

Ex. Ontem passamos o dia pescando.

d) separar aposto e vocativo

O aposto vem sempre separado por vírgula.

Ex. José, marido da secretária, é um bom sujeito.

O vocativo (usado para chamar a atenção do interlocutor) segue a mesma regra.

Ex. Não sei, Carlos, se isso dará certo.

Ex. Só tem uma Coca-Cola na geladeira, mãe.

e) separar elementos intercalados

Os elementos intercalados podem ser comentários sobre o que está sendo dito, expressões que exemplifiquem o que se diz, que estabelecem um contraste ou conjunções adversativas e conclusivas (PORÉM, TODAVIA, LOGO, PORTANTO…).

Ex. A lua, voce sabe, não é o único satélite da Terra.

Ex. Ele conhece, além disso, nossa verdadeira história.

Ex. A baleia, não José, é quem me preocupa. Quero o jantar feito pelo cozinheiro, não pelo jardineiro.

Ex. O comandante, porém, mandou parar o navio. Ninguém sabia, portanto, se a medida era acertada.

f) separar elementos não-restritivos

As orações não-restritivas referem-se a todo o conjunto ou a um elemento já apresentado e definido anteriormente. São sempre isoladas por vírgulas.

Ex. O prefeito da cidade, que não era burro, mandou prender o impostor.

g) indicar a supressão do verbo

A supressão do verbo (elipse) deve ser indicada por uma vírgula, que aparece exatamente no local de sua supressão.

Ex. Maria colhia amoras, e João, pitangas

Atenção: essa situação ocorre apenas quando os sujeitos são diferentes; se tivermos um elemento composto, a vírgula seria inadequada.

Ex. Maria colhia amoras e pitangas.

1.1 Vírgulas desnecessárias

Ao pontuar, evite os seguintes erros.

a) separar o sujeito do verbo, o verbo do complemento ou o adjetivo do substantivo

Ex. A chuva muito prolongada, causou danos consideráveis. ERRADO

Ex. Por que tinha de agüentar aquele menino, mal-educado? ERRADO

Ex. O gato do menino que mora na casa ao lado do Armazém, fugiu pra Bahia. ERRADO


b) separar elementos compostos, unidos por uma conjunção coordenativa

Ex. Perdeu o emprego, e a noiva. ERRADO

c) separar adjuntos adverbiais curtos ou em posição normal na frase (a posição normal é sempre no fim da frase)

Ex. Domingo, fui ao estágio. ERRADO

Ex. O atacante esperou a saída do goleiro e atirou a bola, no canto esquerdo. ERRADO

d) separar orações restritivas

Ex. Todo jovem, que tem a cabeça no lugar, prefere uma bicicleta mais simples. ERRADO

e) colocar vírgula antes do primeiro ou depois do último item de uma série

Ex. História, Geografia e Português, são matérias que não me agradam. ERRADO

f) colocar vírgula depois de conjunção coordenativa

Ex. Sou vegetariano desde pequeno, mas, não consigo me sair bem no colégio. ERRADO

Ex. Deve ter ocorrido algo de ruim, pois, encontrei-a de luto. ERRADO

EXERCÍCIOS

Colocar vírgula onde convier.

Pelos campos pelos bosques por sobre as árvores acima do canto dos pássaros acima dos silvos do vento ouvia-se o apito da locomotiva.

Os dias passavam e o pé de laranja-lima ia de mal a pior.

Não é fácil pegar o trem das 12h pois o sinal para sair toca exatamente ao meio-dia.

Ou as notas de matemática saíram trocadas ou acabo de jogar pela janela mais um semestre de estudo.

Sempre gostei de dar pipoca às pombas nos dias de chuva.

Depois de sete dias de trabalho os diretores da empresa a fim de assegurar sua permanência resolveram aumentar-lhe o salário em 100%.

Todas as vezes em que tentei colocar a coleira em meu cachorro ele terminou mordendo minha perna.

Sim Luiza Paulo é meu filho.

Você verá meu amigo que a vida é dura.

Quero recordar aqui suas virtudes não seus defeitos.

Além disso gostaria de mandá-lo às favas!

A idéia de que voltaria a vê-la contudo mantinha-me nadando.

Os adolescentes que completam 18 anos podem tirar carteira de motorista.

No fundo do meu quintal havia uma porta sem pintura. A porta que estava trancada dava para os fundos de uma velha casa.

O convite dizia que as meninas deveriam levar os salgadinhos; os meninos as bebidas.

Eu ficarei com as brancas e tu com as pretas.

Ponto-e-vírgula

Seu emprego resume-se às três situações seguintes.

a) entre duas orações coordenadas não unidas por conjunção coordenativa (E, NEM, MAS, OU, POIS)

Ex. Nós não quisemos resistir; a situação parecia tensa demais.

b) separar, numa série, itens que já contêm vírgulas

Ex. Vermelho é o sinal para parar; amarelo, para aguardar; e verde, para seguir adiante.

Ex. Poucas pessoas compareceram ao funeral: Maria, sua irmã; João, seu cunhado; Helena, sua fiel enfermeira.

c) separar orações ligadas pelas conjunções CONTUDO, ENTRETANTO, POR CONSEGUINTE, CONSEQUENTEMENTE, PORTANTO

Ex. A lebre corria muito; contudo, a tartatura fazia uma média melhor.

Ex. A presença é obrigatória; portanto, os alunos não têm escolha.

Dois pontos

Empregam-se os dois pontos em três situações básicas:

a) para introduzir uma série de itens

Atenção: os dois pontos só poderão ser empregados se a introdução for uma oração completa!

Ex. As frutas que mais gosto são pitanga, butiá, laranja e goiaba.

Ex. As frutas que mais gosto são: pitanga, butiá, laranja e goiaba. ERRADO

Ex. Gosto muito de certar frutas no verão: pitanga, butiá, laranja e goiaba.

b) para introduzir uma citação formal

c) entre duas afirmativas, quando a primeira introduz claramente a segunda, que lhe serve de explicação ou esclarecimento

Ex. Uma coisa era certa: ele não iria perdoá-lo.

Ex. Vieram os parentes, o cachorro e os passarinhos: uma verdadeira bagunça.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Do jornal Zero Hora

Coluna publicada no jornal Zero Hora em 24 de maio de 2011.

LUÍS AUGUSTO FISCHER

Ensinar ou debater errado?

Notícia boa é saber que a escola em geral e o ensino de Português em particular estão na ordem do dia – a preocupação aumentou, e disso pode resultar um desenvolvimento inédito da área em nosso país. Notícia ruim é constatar que o debate em torno desses relevantes temas é ruim, meio torto, fruto direto da falta de intimidade com a questão por parte dos meios de comunicação massivos.

Vamos a uma analogia: lembra quando a mídia começou a falar da aids? Tinha de tudo em matéria de reação e demoramos muitos anos de debates e reportagens, ouvindo especialistas, vítimas e população em geral, até que agora estamos numa situação razoável. Daquelas primeiras reações (“aids pega em aperto de mão?”) até agora, quanta água rolou, não foi?

O caso atual é bem parecido. O evento mais notório é o do livro didático que o MEC bancou para trabalho com EJA, Ensino de Jovens e Adultos, para gente fora da seriação escolar típica, adultos que há tempos não estudam, se é que alguma vez estudaram. Muitos estão opinando sem ler, ou sem ler direito. Vários textos aqui mesmo na Zero expressaram isso. O que dizem reflete mais a precariedade de informação do que o tema em pauta.

Não duvido da boa-fé de ninguém. Ocorre que tais textos (dois apenas no domingo passado) reagem ao trabalho de linguistas especializados da área da descrição científica e do ensino de línguas do mesmo modo como certas pessoas olham com desconfiança a receita dada por um médico especialista na doença, duvidando que aquilo possa fazer tão bem quanto o velho e conhecido chazinho que a vó preparava. A analogia é imperfeita, como são todas as analogias (do contrário, seriam igualdades), mas ajuda a entender, senão o mérito do problema, ao menos a forma que o problema alcançou na mídia. O chá da vó pode ser bom, mas definitivamente não ajuda a entender melhor o problema (pode até mascará-lo, como recente série do Fantástico mostrou, com Drauzio Varella), nem a curar o doente.

Li o capítulo polêmico do livro (que está em vários lugares da internet) e, caro leitor, o livro está certo, certíssimo: conversa com o leitor (do EJA) para demonstrar (não apenas constatar) a existência da variação social da língua falada e da língua escrita e – atenção – para mostrar o caminho até a forma culta, prestigiada, que os não-especialistas chamam de certa.

Eu também tenho saudade do tempo em que o médico chegava e, apenas botando a mão na testa da gente, dava diagnóstico e prognóstico sem erro; mas hoje isso não existe mais. Não estou dizendo que tudo está bem, no ensino de Português ou no MEC; há interrogações grandes, mesmo nisso que acabei de dizer, mas acabou o espaço, enquanto o problema está só começando a se configurar na arena pública.

domingo, 22 de maio de 2011

Tem jeito certo?

Coluna do David Coimbra no jornal Zero Hora de hoje:

DAVID COIMBRA

O jeito certo é o jeito certo

Você vai a uma vila de qualquer cidade brasileira e ouve uma mãe chamando:

– Wescley, Wellington, Jennifer, Suellen e Pâmela: já pra casa!

São ipsilones, dáblios e eles duplos às catadupas, isso para não citar os vários tipos de Maicons (o mal que Michael Jackson fez ao Brasil ainda será devidamente apurado). Por que essa paixão pelo anglicismo? Porque o pobre acha que o nome em inglês é coisa sofisticada. Coisa de rico.

Aí o rico, o que ele faz? Bota no filho o nome mais ortodoxo possível, um nome que, na década de 70, seria da avó: Maria Carolina, Antonieta, Antônio Pedro, Carlota, João.

***

O pobre gostaria de ser rico. O pobre não quer ter um Fusca 77; quer a BMW do ano. O pobre não quer morar na vila; quer uma cobertura no Moinhos de Vento. Significa que ele despreza seu Fusca ou sua casinha? Não. Ele valoriza um e outra. Afinal, é o que tem. Mas ele preferia ter algo melhor.

Sou neto de sapateiro, já contei. Meu avô não estudou. Aprendeu a ler e a escrever sozinho. Lia muito e valorizava a cultura. Escrevia errado, e se envergonhava disso. Às vezes, apontando para o radinho de pilha sobre sua mesa de trabalho, suspirava:

– David, ouve só o Cândido Norberto e o Mendes Ribeiro falando. Presta atenção: como eles falam bem, como falam certo. Que bonito isso. A gente tem que se esforçar para falar certo.

Meu avô admirava um conhecimento que ele não tinha.

***

É melhor ser rico, bonito e com saúde do que pobre, feio e doente. Óbvio. Mas nem todo mundo pensa assim. Li, na Zero Hora de quinta-feira, a doutora em linguística Ana Maria Stahl Zilles defender, em entrevista, o livro do MEC que ensina a falar errado. Para ela, o livro não ensina a falar errado. Diz a doutora sobre o livro: “Faz a distinção entre a variedade popular e a variedade culta, e mostra que elas têm sistemas de concordâncias diferentes. Eles dizem que na variedade popular basta que o primeiro termo esteja no plural para indicar mais de um referente. Quando os autores explicam que é possível falar ‘os peixe’, não estão querendo dizer que esse é o certo, nem vão ensinar a pessoa a escrever errado. Isso é como as pessoas já falam”. Mais adiante a doutora observa: “Se um professor diz para um aluno que o modo que ele, os pais dele e os amigos dele falam está errado, ele vai se sentir entre dois mundos”.

Cultivo a sólida certeza de que a professora Ana Maria é competente e culta, mas talvez haja algo que ela não saiba. É o seguinte: as pessoas NÃO QUEREM falar errado. Elas NÃO GOSTAM de falar errado. Elas TÊM VERGONHA de falar errado. Mesmo, e principalmente, os pobres. Os pobres QUERIAM MUITO que lhes fosse ensinado como falar corretamente. E outra: os pobres JÁ SABEM que estão entre dois mundos.

***

Ah, sim, a língua é dinâmica e muito do que hoje é certo amanhã não será. Há o que caia em desuso – ninguém mais escreve destarte e outrossim porque ninguém mais fala destarte e outrossim. Há o que se consagre pelo uso – as pessoas já estão escrevendo “se diria” porque todos falam “se diria”; ninguém fala “dir-se-ia”. Um dia, viveremos num mundo sem mesóclises.

Mas essas mudanças ocorrem lentamente e são absorvidas ainda mais lentamente pela língua padrão. Primeiro, se consagram na língua falada. Depois, aos poucos, são reproduzidas pela língua escrita. Só então, quando já se tornaram de uso corrente, é que aparecem em um livro didático, como esse ERRADO do MEC.

***

Duvido que alguém minimamente letrado não se sinta levando um soco no ouvido ao ler “os peixe”. Algum gaiato há de lembrar que Lula fala “os peixe” e é popular. Mas, creia, Lula é popular apesar de falar “os peixe” e não por causa de. Repito: o pobre não quer ser ignorante.

Quando o pobre, o rico, o remediado, quando qualquer pessoa passa pela escola, quando ela aprende e lê e se informa, ela cresce espiritualmente. Ela se transforma. Ela repudia a ignorância e a grosseria. Repudia, por exemplo, o racismo em qualquer parte, inclusive nos estádios de futebol. Ela se arrepia quando alguém escreve ou fala errado. Porque, mais do que os doutores, ela sabe como é ruim não saber.




sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dia da Língua Nacional


quinta-feira, 19 de maio de 2011

A língua em debate no jornal Zero Hora

Jornal Zero Hora de hoje (edição 16704, link aqui) traz excelente material e divergentes opiniões sobre a polêmica do livro do MEC que "ensinaria a escrever errado". Nota 10, ZH!

A LÍNGUA EM DEBATE

O certo e o errado em discussão

Ao apresentar e defender construções como “os livro” e “os peixe” em um livro didático como “variedades de fala popular”, o Ministério da Educação (MEC) causou polêmica entre educadores e especialistas. Após o repúdio inicial, porém, aparecem defensores da escolha do MEC.

Como a obra Por uma vida melhor, integrante da coleção Viver, Aprender, é destinada aos alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), há quem defenda a abordagem como uma forma de atrair esse nicho lidando com mecanismos de autoestima e valorizando o modo como eles se comunicam. Em outra ponta, alguns professores da Gramática se ofendem em ver um objeto de estudo dos alunos com erros de concordância.

Ontem, a Ação Educativa, organização responsável pela elaboração do material, defendeu que o livro não ensina erros, nem deixa de ensinar a norma culta, apenas indica que existem “outras variedades diferentes dessa”. Vera Masagão Ribeiro, coordenadora-geral da entidade, diz que jamais imaginou tanto rebuliço com a obra que a equipe dela produziu e foi distribuída a mais de 4 mil escolas brasileiras. No Rio Grande do Sul, a obra foi aprovada em setembro pelos responsáveis pelo EJA, mas a secretaria da Educação não sabe precisar quantas unidades utilizam o material.

Vera afirma que os exemplares foram mandados para dezenas de doutores em Educação do país antes de serem encaminhados ao MEC, unânimes na avaliação positiva. Vera admite, entretanto, que uma frase que outra pode mesmo ter sido colocada indevidamente:

– Existem algumas frases que até pode ser que venhamos a nos arrepender daqui a três anos, como aquele trecho: “mas eu posso falar ‘os livro’? É claro que pode”. De todo o jeito, é apenas uma passagem pinçada dentro de uma obra que está toda correta e que não foge à norma culta – destaca Vera.

A questão de explicitar que há diferenças entre a forma escrita e a falada deve ser estimulada, de acordo com especialistas.

Uso na Educação Básica é questionado

Para o professor Luiz Carlos Schwindt, doutor em Linguística e membro do projeto de Variação Linguística Urbana no sul do país (Varsul), o maior defeito é tê-la publicado em um livro didático.

– Não vejo qualquer incorreção nas informações do capítulo em questão. Só acho que é mais adequado deixar essas questões para serem tratadas pelo professor de português do que para estar em um livro de Educação Básica. O livro deve conter apenas a norma culta e o docente deve estar preparado e consciente para lidar com as diversidades linguísticas – aponta Schwindt.

Em meio ao debate, se levantou o temor de que a escrita fosse adaptada à fala das ruas. Com isso, manifestações como “os pé” e “os carro amarelo” poderiam ser incorporados à norma culta. Exemplos na história existem aos montes. A palavra “você” mesmo já foi “vossa mercê” no passado. E se daqui a algumas décadas elas tomarem conta?

O professor de Literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e escritor Luís Augusto Fischer explica que realmente há transformações ao longo dos tempos, mas que da maneira como a sociedade está composta agora, isso não seria muito fácil de ocorrer:

– Originalmente, o português era a forma inculta de falar latim. Depois virou a língua do estado nacional. Com o passar dos anos se tornou uma língua decente. O acúmulo de material escrito maior do que jamais houve impede, entretanto, que modificações tão radicais sejam adotadas. Uma coisa é criar uma língua em 1540, outra é fazer isso em 2020.

kamila.almeida@zerohora.com.br

KAMILA ALMEIDA

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19 de maio de 2011 | N° 16704

PARA PENSAR

Susto na gramática

Tu vai sair para almoçar hoje?. Quase todo mundo já usou essa expressão em uma conversa, mesmo sabendo que a conjugação correta do verbo seria tu vais.

É comum ouvir as pessoas dizerem que vão tomar um “copo de leiti” – a letra “e” no final de “leite” é transformada, na oralidade, em “i”.

São erros, adaptações ou jeitos de falar próprios dos brasileiros? Debati o tema ontem com os professores da UFRGS Luciana Piccoli e Pedro Garcez (assista à íntegra da nossa conversa e leia o capítulo do livro que gerou a polêmica emwww.zerohora.com). Para Garcez, não são erros, são “formas socialmente estabelecidas que fazem parte do português brasileiro”. O especialista argumenta, inclusive, que esses dois exemplos citados são mais aceitos que outros estigmatizados, como “pranta” no lugar de “planta”.

Encontrar uma forma não prevista na gramática como uma possibilidade adequada em um livro distribuído pelo Ministério da Educação assusta, e a primeira reação é acreditar que os estudantes vão ficar orgulhosos de falar errado ou simplesmente vão repetir as incorreções no dia a dia.

Esse susto, que desencadeou um debate nacional interessante nos últimos dias, faz sentido. Mas também faz sentido pensar que a reflexão sobre as diferenças entre falar e escrever podem ser tema de debate na sala de aula, acreditando que os alunos têm condições de compreender a forma gramatical da norma escrita e descobrir o limite de uso das formas orais. E aí, novamente, o professor é a figura-chave: é ele quem precisa orientar o estudante para entender essas peculiaridades e, assim, adquirir consciência sobre a linguagem falada e a escrita.

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ENTREVISTA

“Reconhecer a variedade é legítimo”

Ana Maria Stahl Zilles, doutora em Linguística

Zero Hora – Qual é a sua opinião sobre a polêmica que se estabeleceu?

Ana Maria Stahl Zilles – A polêmica não tem fundamento. Ela está estabelecida nas informações do primeiro capítulo do livro, que é sobre a diferença entre escrever e falar. Ele é muito adequado por que diz que a escrita é diferente da fala e que na fala existe muito mais variação do que na escrita. Faz a distinção entre a variedade popular e a variedade culta, e mostra que elas têm sistemas de concordâncias diferentes. Eles dizem que na variedade popular basta que o primeiro termo esteja no plural para indicar mais de um referente. Quando os autores explicam que é possível falar “os peixe”, não estão querendo dizer que esse é o certo, nem vão ensinar a pessoa a escrever errado. Isso é como as pessoas já falam. A escola tem é que ensinar a norma culta e o livro faz isso. O objetivo do capítulo é apenas deixar claro que uma coisa é falar e outra é escrever.

ZH – Existe preconceito contra quem fala errado?

Ana Maria – Existem pesquisas feitas nos projetos de estudo de variação linguística que entrevistaram as mesmas pessoas em intervalos de 15 e 20 anos. Se observou que existe um movimento dos falantes se aproximando da norma culta. A população brasileira está com acesso universal à escola e tendo possibilidade de aprender a norma culta. Esse reconhecimento de que existe variação é essencial para que ela não se sinta um ser excluído da escola. Se um professor diz para um aluno que o modo que ele, os pais dele e os amigos dele falam está errado, ele vai se sentir entre dois mundos.

ZH – Esse tipo de abordagem se justifica em determinados públicos, como alunos do EJA (Educação para Jovens e Adultos)?

Ana Maria – O professor vai receber alunos que estão tentando recuperar o tempo perdido. Acho que faz todo o sentido reconhecer junto com o aluno que a variedade que ele fala existe e é legítima. Eu não estou dizendo certa. É o meio de expressão da maioria dos falantes do Brasil. Faz muito mais sentido acolher o aluno por que é assim que ele construiu a própria identidade no mundo.

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ENTREVISTA

“Dizer que é errado não é preconceito”

Cláudio Moreno, doutor em Letras

Zero Hora – Qual é a sua opinião sobre a polêmica que se estabeleceu?

Cláudio Moreno – O livro tem que ser proibido e as pessoas devem ser punidas. Esse livro chamou a atenção por que é a primeira vez que aparece em público uma coisa que nós, professores de português, enfrentamos há anos: uma falsa teoria de que falar em norma culta é preconceito linguístico. Sempre foi pregado que é necessário valorizar as variantes linguísticas. O público em geral não sabia disso. A Linguística estuda a língua humana. Do ponto de vista dela não tem certo ou errado. Vai estudar como as pessoas se comunicam, mas isso não tem nada a ver com o que deve ser ensinado na sala de aula. A escola tem que escolher o que vai ensinar e ela seleciona aquilo que o jovem não aprenderá em lugar algum, que não seja na escola. O que eles estão dizendo não é para dizer em um livro para estudantes. O aluno que está lá não está para aprender teoria linguística, mas para saber como faz a concordância correta do verbo. Não tem desculpa. Ele está inadequado.

ZH – Existe preconceito contra quem fala errado?

Moreno – Tem uma expressão que me incomoda profundamente: preconceito linguístico. Por que preconceito? Se eu disser que uma pessoa está pintando uma porta errada é preconceito? Não, estou avisando que está errado. O problema é que eles se colocam em uma posição utópica. Esse é o maior câncer no ensino do português e é por isso que o português está tão ruim. Tem milhares de modalidades de falar e escrever, todas válidas. As pessoas vivem e morrem com aquela linguagem, mas a escola não tem nada a ver com isso. Ela tem de ensinar uma que é única, que faz todos serem da mesma comunidade linguística. Segundo eles, isso é escolhido pela burguesia, que decide qual é a melhor e exclui a que é do povo. Mas a do povo é incompleta. Os ricos adotaram a norma culta por que é melhor.

ZH – Esse tipo de abordagem se justifica em determinados públicos, como alunos do EJA (Educação para Jovens e Adultos)?

Moreno – Eles tratam aqueles que fazem o EJA como débeis mentais. Ele não é um coitado. É um cidadão que trabalha. Eles têm a ideia de que o estudante do EJA fica completamente bloqueado pela autoestima baixa e, vendo que o modo como ele fala também está bom, não vai aceitar aprender a língua culta. Isso é uma asneira.



quarta-feira, 18 de maio de 2011

Portfólio

Mais uma publicação revisada pela 3GB Consulting: revista Sul Sports maio/2011!

Do site Folha Online

MEC descarta regra do "jeito certo" de falar desde 1997

ANTÔNIO GOIS
DO RIO

Atualizado às 13h01.

A orientação para que as escolas não "consertem a fala de aluno para evitar que ele escreva errado" consta desde 1997 dos Parâmetros Curriculares Nacionais --ou seja, passou pelos governos FHC, Lula e Dilma.

Os documentos servem como orientação a escolas, professores e editoras.

Quando abordou nos PCNs o tema "qual fala cabe à escola ensinar", o Ministério da Educação já orientava que a escola "precisa livrar-se do mito de que existe uma única forma certa de falar".

Mesmo assim, surgiu recentemente uma grande discussão sobre variações na linguagem oral em desacordo com a norma culta, motivada pelo livro didático "Por uma Vida Melhor".

Na semana passada, o site IG divulgou que o livro, ao tratar da diferença entre a língua oral e a escrita, afirma que é possível dizer, em determinados contextos, "os livro ilustrado mais interessante estão emprestado".

A educadora Maria Cristina Ribeiro Pereira, uma das coordenadoras dos PCNs em 1997, diz que a inclusão do tema nos parâmetros teve como objetivo chamar a atenção da escola para preconceitos não visíveis.

"O preconceito em relação à fala acontece não apenas com jovens e adultos. É comum, por exemplo, quando uma criança sai de uma escola rural para uma urbana, sofrer preconceito pelo modo de falar." Ela não quis comentar o livro "Por uma Vida Melhor" por não tê-lo lido.

Para o linguista e acadêmico da Academia Brasileira de Letras Evanildo Bechara, no entanto, a orientação dos PCNs foi um "erro de visão".

"Há uma confusão entre o que se espera de um cientista e de um professor. O cientista estuda a realidade de um objeto para entendê-lo como ele é. Essa atitude não cabe em sala de aula. O indivíduo vai para a escola em busca de ascensão social", diz Bechara.

Anteontem, a ABL divulgou nota oficial criticando o livro e o MEC. Marcos Bagno, autor do livro "Preconceito Linguístico", discorda.

"Discutir preconceito linguístico na escola é fundamental para que alunos que vêm de classes menos favorecidas não se sintam reprimidos ou amedrontados", diz.

"A atitude normal da escola sempre foi zombar da fala dos alunos. Esse debate é fundamental para criar um ambiente mais acolhedor."

Bagno critica os meios de comunicação por terem criado o que ele chama de falsa polêmica. "A discussão sobre preconceito linguístico ocupa apenas 2% do tempo de sala de aula. Nos outros 98%, o que se faz é ensinar as normas cultas de prestígio."

Ele argumenta também que a língua é dinâmica. 'Há 50 anos, dizer que alguém "poderia se mudar' era crime bárbaro, pois o certo seria poder-se-ia. Hoje, no entanto, quase todos os manuais de redação de jornais orientam a evitar a mesóclise."

terça-feira, 17 de maio de 2011

Do Blog do Noblat

Artigo publicado no Blog do Noblat (www.blogdonoblat.com.br):


Tu já pensou?

Aprovado pelo MEC, o livro didático "Por uma vida melhor", da coleção "Viver, aprender", caiu na boca do povo. O motivo? A autora Heloisa Ramos considera correto se falar e escrever sem regras gramaticais. Imaginei que o tema seria um prato cheio em conversas apenas entre mestres e professores obedientes à norma culta.

Mas os exemplos lançados no livro, como o "nós pega o peixe", acabaram esquentando tanto a discussão que ela pipocou no meio leigo. A polêmica, contrários versus favoráveis à norma popular nas salas de aula, ficou ainda mais acalorada.

Foi nesse clima que ouvi uma babá e sua colega, que cuidavam de duas crianças numa pracinha, a falar do assunto e de seus próprios filhos estudantes em escola pública:

- Tu já pensou? Só criança de bacana vai ter direito de aprender certo.

- Brincadeira... Não botei minha filha na escola pra ela acabar igual eu!

Depois, ao parar na banca de jornal, fiquei na escuta numa roda de bate-papo. Um papeador insinuou que o livro em questão seria para justificar a falta de cultura do ex-presidente. A politização do tema não seguiu em frente porque um outro contrapôs, dizendo que Lula é "um comunicador popular".

Na verdade, estavam todos mais preocupados com a atitude da garotada daqui por diante. Alguém foi cruelmente taxativo: "Coitada da professora de português!"

A coisa é séria. Muitas vezes o aluno mais criativo e que desenvolve melhor uma redação não tem qualquer reconhecimento. Tira nota baixa e se sente desprezado. Por quê? Porque comete erros gramaticais. Se isso acontece por uma dificuldade originada na falta de instrução de sua família, então ele deveria merecer mais atenção do professor.

Há diferença entre escrever bem e escrever certo. Escrever bem é uma aptidão a ser valorizada e estimulada. Jamais desprezada. Já escrever certo depende de estudo e prática em gramática; a qual se aprende na escola e durante toda a vida. Até como uma forma de ascender socialmente. Falar certo, idem. Pessoas escolarizadas ou autodidatas são as que conseguem se expressar bem e certo.

E a linguagem popular? Caracteriza-se por ser livre, diversa: em regionalismos, dialetos, gírias, internet... Em prosa, verso, cordel, letra de músicas. Também faz parte da ciência linguística.

O livro "Por uma vida melhor" confunde as funções de um linguista com as de um professor de português. Numa sala de aula, um professor tem que ensinar o aluno a gostar de aprender. Ponto. (Sem preconceito.)

Ateneia Feijó é jornalista

O uso da língua portuguesa

Lá na nossa fanpage no Facebook tem um vídeo com a opinião do jornalista Alexandre Garcia sobre a polêmica da hora, o tal livro do MEC que estimularia os jovens a se comunicarem de forma incorreta!

Livro defendendo erro de português?

PUBLICAÇÃO POLÊMICA

ABL desaprova livro que defende erros de português

Ministério não irá recolher publicação distribuída a estudantes que gerou críticas de especialistas

A Academia Brasileira de Letras (ABL) criticou, em nota, o livro didático distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) que defende erros de português. No comunicado, a ABL diz que “estranha certas posições teóricas dos autores” do livro polêmico.

– Todas as feições sociais do nosso idioma constituem objeto de disciplinas científicas, mas bem diferente é a tarefa do professor de língua portuguesa, que espera encontrar no livro didático o respaldo dos usos da língua padrão que ministra a seus discípulos – diz a nota.

Apesar das críticas de educadores e escritores, o MEC não pretende retirar das escolas o livro com graves erros gramaticais distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático.

Ao todo, 485 mil estudantes jovens e adultos receberam a publicação Por uma Vida Melhor, de Heloísa Ramos, que defende uma suposta supremacia da linguagem oral sobre a linguagem escrita, admitindo a troca dos conceitos “certo e errado” por “adequado ou inadequado”. Apartir daí, frases com erros de português como “nós pega o peixe” poderiam ser consideradas corretas em certos contextos.

– Não somos o Ministério da Verdade. O ministro não faz análise dos livros didáticos, não interfere no conteúdo. Já pensou se tivéssemos que dizer o que é certo ou errado? Aí, o ministro seria um tirano – disse um auxiliar do ministro Fernando Haddad, que pediu para não ser identificado.

Escritores e educadores criticaram a decisão de distribuir o livro, tomada pelos responsáveis pelo Programa Nacional do Livro Didático. Para Mírian Paura, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as obras distribuídas pelo MEC deveriam conter a norma culta:

– Não tem que se fazer livros com erros. O professor pode falar na aula que temos outra linguagem, a popular, não erudita, como se fosse um dialeto. Os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito.

Autor de dezenas de livros infantis e sobre Machado de Assis, o escritor Luiz Antônio Aguiar também é contra a novidade:

– Isso demonstra falta de competência para ensinar.

Em nota distribuída quando a polêmica se tornou pública, o MEC informou que a norma culta da língua será sempre a exigida nas provas e avaliações, mas que o livro estimula a formação de cidadãos que usem a língua com flexibilidade. O propósito, segundo o MEC, é discutir o mito de que há apenas uma forma de se falar corretamente. Ainda segundo o ministério, a escrita deve ser o espelho da fala.

Entenda o caso

- O Programa Nacional do Livro Didático, do Ministério da Educação (MEC), distribuiu a cerca de 485 mil estudantes jovens e adultos dos ensinos Fundamental e Médio uma publicação que faz uma defesa do uso da língua popular, ainda que com incorreções.

- Para os autores do livro, deve ser alterado o conceito de se falar certo ou errado para o que é adequado ou inadequado. Exemplo: “Posso falar ‘os livro’?’ Claro que pode, mas dependendo da situação, a pessoa pode ser vítima de preconceito linguístico”, diz um dos trechos da obra “Por uma vida melhor”, da coleção Viver, aprender.

- Outras frases citadas e consideradas válidas são “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A vírgula


E você acha que pontuação não é importante? Olhe o que uma simples vírgula a mais ou a menos pode fazer...

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Polêmica do MEC

Texto do jornalista Clóvis Rossi, do jornal Folha de S. Paulo, publicado na edição deste domingo, 15 de maio. Fala sobre a polêmica em torno do livro do MEC que estimularia as pessoas a falarem errado (veja aqui). Esse assunto também foi tema de debate hoje pela manhã na rádio Band News.

Clóvis Rossi

Inguinorança

Não, leitor, o título acima não está errado, segundo os padrões educacionais agora adotados pelo mal chamado Ministério de Educação. Você deve ter visto que o MEC deu aval a um livro que se diz didático no qual se ensina que falar "os livro" pode.
Não pode, não, está errado, é ignorância, pura ignorância, má formação educacional, preguiça do educador em corrigir erros. Afinal, é muito mais difícil ensinar o certo do que aceitar o errado com o qual o aluno chega à escola.
Em tese, os professores são pagos -mal pagos, é verdade- para ensinar o certo. Mas, se aceitam o errado, como agora avaliza o MEC, o baixo salário está justificado. O professor perde a razão de reclamar porque não está cumprindo o seu papel, não está trabalhando direito e quem não trabalha direito não merece boa paga.
Os autores do crime linguístico aprovado pelo MEC usam um argumento delinquencial para dar licença para o assassinato da língua: dizem que quem usa "os livro" precisa ficar atento porque "corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico".
Absurdo total. Não se trata de preconceito linguístico. Trata-se, pura e simplesmente, de respeitar normas que custaram anos de evolução para que as pessoas pudessem se comunicar de uma maneira que umas entendam perfeitamente as outras.
Os autores do livro criminoso poderiam usar outro exemplo: "Posso matar um desafeto? Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito jurídico".
Tal como matar alguém viola uma norma, matar o idioma viola outra. Condenar uma e outra violação está longe de ser preconceito. É um critério civilizatório.
Que professores prefiram a preguiça ao ensino, já é péssimo. Que o MEC os premie, é crime.


sábado, 14 de maio de 2011

Que sucesso, MEC!

Livro distribuído pelo MEC defende errar concordância

Texto entregue a jovens e adultos afirma que é possível dizer "os livro"

Para ministério, obra segue os Parâmetros Curriculares Nacionais, pelos quais não há uma forma "certa" de falar

DO RIO

Um livro didático para jovens e adultos distribuído pelo MEC a 4.236 escolas do país reacendeu a discussão sobre como registrar as diferenças entre o discurso oral e o escrito sem resvalar em preconceito, mas ensinando a norma culta da língua.
Um capítulo do livro "Por uma Vida Melhor", da ONG Ação Educativa, uma das mais respeitadas na área, diz que, na variedade linguística popular, pode-se dizer "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado".
Em sua página 15, o texto afirma, conforme revelou o site IG: "Você pode estar se perguntando: "Mas eu posso falar os livro?". Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico".
Segundo o MEC, o livro está em acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) -normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didáticos.
"A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma "certa" de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala", afirma o texto dos PCNs.
"Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos", continua.
Heloísa Ramos, uma das autoras do livro, disse que a citação polêmica está num capítulo que descreve as diferenças entre escrever e falar, mas que a coleção não ignora que "cabe à escola ensinar as convenções ortográficas e as características da variedade linguística de prestígio".
O linguista Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, critica os PCNs.
"Há uma confusão entre o que se espera da pesquisa de um cientista e a tarefa de um professor. Se o professor diz que o aluno pode continuar falando "nós vai" porque isso não está errado, então esse é o pior tipo de pedagogia, a da mesmice cultural", diz.
"Se um indivíduo vai para a escola, é porque busca ascensão social. E isso demanda da escola que lhe ensine novas formas de pensar, agir e falar", continua Bechara.
Pasquale Cipro Neto, colunista da Folha, alerta para o risco de exageros. "Uma coisa é manifestar preconceito contra quem quer que seja por causa da expressão que ela usa. Mas isso não quer dizer que qualquer variedade da língua é adequada a qualquer situação."

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Texto publicado no jornal Folha de S. Paulo em 14 de maio de 2011.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Quando usar MAL ou MAU?

Dicas excelentes do renomado professor Sérgio Nogueira que achamos no site G1:


Ortografia – MAU ou MAL?

por Sérgio Nogueira

a) MAU é um adjetivo e se opõe a BOM:

“Ele é um mau profissional.” (x bom profissional);
“Ele está de mau humor.” (x bom humor);
“Ele é um mau-caráter.” (x bom caráter);
“Tem medo do lobo mau.” (x lobo bom);

b) MAL pode ser:
1. advérbio (=opõe-se a BEM):
“Ele está trabalhando mal.” (x trabalhando bem);
“Ele foi mal treinado.” (x bem treinado);
“Ele está sempre mal-humorado.” (x bem-humorado);
“A criança se comportou muito mal.” (x se comportou muito bem);
2. conjunção (=logo que, assim que, quando):
“Mal você chegou, todos se levantaram.” (=Assim que você chegou);
“Mal saiu de casa, foi assaltado.” (=Logo que saiu de casa);
3. substantivo (=doença, defeito, problema):
“Ele está com um mal incurável.” (=doença);
“O seu mal é não ouvir os mais velhos.” (=defeito).
Na dúvida, use o velho “macete”:
MAL x BEM;
MAU x BOM.

Exercício – Complete as frases a seguir com MAL ou MAU:

1. Ele é um ______ profissional.
2. Ele está trabalhando ______.
3. O chefe está de ______ humor.
4. O chefe está sempre ______ -humorado.
5. O empregado foi ______ treinado.
6. ______ chegou ao escritório, teve o desprazer de encontrar a ex-esposa.
7. ______ saiu de casa, foi assaltado.
8. ______ foi contratado, já demonstrou suas qualidades.
9. Houve um terrível ______-estar.
10. Ele é um grande ______-caráter.
11. Comportou-se muito ______ durante a reunião.
12. Sempre foi um ______ aluno.
13. O seu ______ é não ouvir os mais velhos.
14. Você não sabe o ______ que ela me faz.
15. Ela está com um ______ incurável.
16. Sofreu um ______ súbito.
17. Ele ______ adivinha o que pode lhe acontecer.
18. A velhinha ______ saía de casa.
19. Um falava bem; o outro, muito ______.
20. Um era bom; o outro, muito ______.

Respostas

Exercício 2 – Complete as frases a seguir com MAL ou MAU:
1.
Ele é um MAU profissional.
2. Ele está trabalhando MAL.
3. O chefe está de MAU humor.
4. O chefe está sempre MAL-humorado.
5. O empregado foi MAL treinado.
6. MAL chegou ao escritório, teve o desprazer de encontrar a ex-esposa.
7. MAL saiu de casa, foi assaltado.
8. MAL foi contratado, já demonstrou suas qualidades.
9. Houve um terrível MAL-estar.
10. Ele é um grande MAU-caráter.
11. Comportou-se muito MAL durante a reunião.
12. Sempre foi um MAU aluno.
13. O seu MAL é não ouvir os mais velhos.
14. Você não sabe o MAL que ela me faz.
15. Ela está com um MAL incurável.
16. Sofreu um MAL súbito.
17. Ele MAL adivinha o que pode lhe acontecer.
18. A velhinha MAL saía de casa.
19. Um falava bem; o outro, muito MAL.
20. Um era bom; o outro, muito MAU.