quinta-feira, 16 de junho de 2011

Complexo de vira-latas?

Por quê?

No dia a dia do trabalho com revisão de texto, deparamo-nos com informações que não tínhamos, dados que não conhecíamos e surpresas que... bem, que preferiríamos evitar.

Uma delas chamou nossa atenção recentemente. Temos como cliente uma revista de esportes, viagens, lazer, aventura, estilo de vida e cultura, a Revista Sul Sports. Não, não vamos falar mal do nosso cliente ‒ aliás, se fosse para falar dele, teceríamos loas à qualidade do que eles produzem e, principalmente, à simpatia e à gentileza de seu editor no trato diário com nossa equipe. Vamos falar é do que descobrimos por meio de nosso cliente.

Antes, ainda, cabe ressaltar que nos opomos, frontalmente, a todo e qualquer projeto (idiota) de lei que vise obrigar os brasileiros a não usarem palavras estrangeiras em seu dia a dia. Iniciativas como a passada, do deputado Aldo Rebelo, ou a recente, do Raul Carrion, são vistas por nós com o desdém que reservamos às atitudes bobas e fúteis que permeiam a vida de muita gente. São inúteis, desnecessárias, e vão na contramão da evolução natural da língua, que sempre se apropria de idiomas estrangeiros para se enriquecer.

E é aí, na evolução da língua, que mora o ponto ao qual queremos chegar. Ao evoluir, a língua toma emprestadas palavras de outros idiomas. Estas, como tempo, vão se infiltrando, vão se chegando de mansinho (às vezes de supetão mesmo), entranhando-se em nosso português. Com o tempo, não se distinguem mais de nossa língua pátria ‒ é quando se aportuguesam, quando são reconhecidas e acolhidas por nossos dicionários (e, mais ainda, pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é a obra que “diz” quais palavras pertencem ao nosso idioma).

Mais um preâmbulo antes de chegarmos ao ponto principal deste texto: que as pessoas falem com sotaque estrangeiro uma palavra que já se aportuguesou, tudo bem, é algo pessoal ‒ ainda que possamos achar, e confesso que achamos, bobo e sem sentido. O que não dá pra entender é como entidades, que representam grupos de pessoas, caem nessa bobagem.

Pois bem, o ponto é este, e é isto que descobrimos: você sabia que temos, no Brasil, uma Confederação Brasileira de Surf? Ou uma de Triathlon? E que desde 1965 a palavra surfe já é parte de nossa língua; ou que triatlo, ou triátlon (se o cara quiser chegar mais perto da pronúncia original da palavra), também já fazem parte de nosso idioma?

Para quem já pensou em se contrapor ao parágrafo acima, perguntamos: por que não mudamos o nome da CBF para Confederação Brasileira de Football? Acharíamos ridículo, não? E por que não achar também ridículo surf ou triathlon?

Bom, gente, está lançada a polêmica. Reforçamos o que dissemos lá no começo, contrariamente à obrigatoriedade de somente usarmos palavras portuguesas. Mas usar palavra estrangeira quando ela existe em português, desculpem, para nós é macaquice, é o famoso complexo de vira-latas tão bem delineado pelo mestre e gênio Nelson Rodrigues. Um ou outro bobo vira-lata usar, a torto e a direito, palavras e expressões estrangeiras em seu linguajar, vá lá. Que uma entidade inteira faça isso, aí nos parece indesculpável. Alô, federações esportivas brasileiras, que tal valorizarmos um pouco mais nosso idioma?

É o apelo que fazemos!

Um comentário:

3GB Consulting disse...

Veja o que, por absoluta coincidência, o prof. Pasquale escreveu hoje na Folha:
"O problema não é o estrangeirismo em si (em muitas e muitas situações, o estrangeirismo resolve muito bem a questão). O problema está em certos usos (tolos) dos estrangeirismos. Um deles é 'safety car', expressão que não melhora em nada de nada a construção portuguesa 'carro de segurança'".